Presidente da Carris busca equilibrar financeiramente a empresa

01/03/2019 09:20
Jefferson Bernardes/PMPA
EXECUTIVO
Fruto de seu trabalho, a Carris obteve lucro bruto de R$ 11,9 milhões no fim de 2018

Quem ingressa na sala da diretora-presidente da Companhia Carris Porto-Alegrense se depara com um quadro branco com os seguintes dizeres: “Diretriz 2019 - Zerar o déficitâ€. Este mantra guia o atual desafio profissional de Helen Machado. Em quase dois anos de gestão, ela vem colhendo resultados considerados importantes, que estão mudando a imagem da empresa, ainda marcada por déficits. Fruto de seu trabalho, o resultado preliminar do exercício de 2018 corresponde a R$ 19 milhões negativos, representando uma redução de R$ 55 milhões no déficit da Carris quando comparado a 2016. Naquele ano, o resultado foi de R$ 74,2 milhões negativos e no ano seguinte, 2017, foi reduzido para R$ 43,1 milhões. Já em dezembro de 2018, a Carris obteve um lucro bruto de R$ 11,9 milhões, primeiro resultado positivo desde 2012. 

Helen, que assumiu o comando da empresa em abril de 2017, tendo ingressado em fevereiro, como diretora administrativa financeira, se auto define como “uma mulher obstinada, resiliente e com coragem para fazer o que tem de ser feitoâ€. Com experiência de ter atuado em grandes corporações, se sentiu preparada para o desafio que veio em forma de convite, quando estava saindo para as férias de verão.

“Era final de janeiro de 2017, quando um headhunter do Banco de Talentos da Prefeitura me ligou para uma entrevista. Estava arrumando o carro para o veraneio, com tudo o que tem direito, até peixe tinha. Enquanto o meu marido circulava pelo centro com o meu filho, eu era sabatinada pelo secretário Sabino (Elizandro, hoje deputado estadual eleito, na época secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana) e pelo presidente Ferreira (Luis Fernando, ex- diretor-presidente da Carris)â€, conta.

Desordem administrativa
Ela lembra que a tônica dos questionamentos era como lidaria com um universo, em sua maioria masculino, às corporações, a desordem administrativa e os desmandos, além do sindicato. “Depois de um breve período, em fevereiro me chamaram para assumir a diretoria Administrativa-Financeira. Vim me sentindo preparada, por toda a minha bagagem, mas a coisa foi muito pior que imaginavaâ€.  

Helen relata que encontrou um ambiente hostil, dividido em pequenos grupos, com boicote, franco acesso às instalações e preponderava certo liberalismo das chefias, evitando com isso possíveis conflitos com os subalternos. “Em suma, um ambiente caótico que jamais vivi e o pior, sofria ameaças veladas e sentia que era seguidaâ€, salienta acrescentando que ao ver uma criança, filho de um motorista da empresa, dirigindo juntamente com seu pai, um ônibus no pátio resolveu agir e sem medo de represália. Comecei a restringir o acesso à Companhia, adotar a revista ao sair e receber às corporações somente com agenda. “Mudei os procedimentos e a rotina e passamos a adotar maior controle nos pagamento. Foi aí que flagramos um desvio de recursos, por parte de um funcionárioâ€, diz. O fato foi encaminhado ao Ministério Público.

Banco de Talentos
Efetivada como presidente, Helen e sua equipe, todos escolhidos pelo Banco de Talentos, buscaram nas ferramentas de gestão a superação da crise. Focada em preparar a empresa para o futuro, montou estruturas eficientes e enxutas. Entre os problemas enfrentados está à suspensão de um contrato com a Susepe, que deveria fornecer 25 detentos do sistema semiaberto para atuar na empresa. Além da falta de controle dessas pessoas, o convênio representava um aumento de R$ 1,2 milhão na folha de pagamento ao ano, para uma empresa que estava com um quadro de lotação maior que o necessário. 

Recorda, ainda, que suspendeu alguns benefícios como o Programa de Participação nos Resultados Carris (PPRC) e o vale peru. “Considero inconcebível uma empresa que apresenta prejuízos constantes, conceder prêmios aos funcionários, colaborando ainda mais para o aumento de custosâ€, salienta Helen.

A presidente passou a valorizar os colaboradores comprometidos e instigou a fazerem um ótimo trabalho na sua função, pois assim, a Carris se tornaria eficiente e competitiva. “Investimos nossos poucos recursos em ferramentas de gestão, um plano de qualidade, um programa de segurança no trabalho, formação de funcionários e em qualidade nas instalaçõesâ€, recorda Helen. A presidente lembra que já foi iniciado um projeto de reforma e revitalização dos 17 terminais, objetivando adequá-los às necessidades dos colaboradores. “Em dezembro entregamos o Terminal Centro. A obra do Terminal Albion está em andamentoâ€, informa. 

Linha Direta
Helen identifica que a comunicação eficiente também fez parte do choque de gestão e com isso foram criados canais diretos de comunicação com os colaboradores. “Com o Linha Direta, passamos a divulgar projetos, programas e informações gerais e recebemos relatos dos colaboradores, na maioria comprometidos e que querem mudar a empresa. Eles estão vindo e trazendo sugestõesâ€, explica Helen.  Foram adotados procedimentos e formas de trabalho, incorporados nas estruturas. Fizemos isso tudo adotando uma linguagem simples e objetiva, sempre com a preocupação de que todos os envolvidos entendam a mensagem. 

Com a implantação da ferramenta de gestão orçamentária para controle de gastos, a Carris apresentou uma economia de R$ 24 milhões em 2018, em relação ao mesmo período de 2017, representando 56% na redução do prejuízo. Em outras ações, a atual gestão aumentou a hora de treinamento de funcionários, contribuindo para a redução do número de acidentes e avarias, bem como para a melhoria do atendimento aos clientes da Carris. Hoje a empresa conta com dois mil funcionários e faturou R$ 164 milhões, em 2018.

Credibilidade
“Outra ação que considero importante, é a contribuição da Carris para a redução do número de assaltos, mediante um trabalho de apoio aos órgãos de segurança. Somente na frota da empresa, as ocorrências representaram uma diminuição de 103% em 2018, quando comparada a 2016â€, destaca Helen. 

A presidente da Carris diz que está sendo retomada a credibilidade da Companhia. Mas, ainda necessita de aportes da Prefeitura. Desde 2011 a empresa registra déficits, com os prejuízos acumulados atingindo os R$ 289,9 milhões. Contudo, os repasses vêm reduzindo: em 2018, foram R$ 19 milhões; em 2017, R$ 48,7 milhões, e em 2016, R$ 55 milhões, uma economia de R$ 33 milhões em dois anos. Em 2018, a companhia voltou a apresentar resultado operacional positivo, um lucro bruto de R$ 11,9 milhões - uma melhora de R$ 29 milhões em relação a 2016, quando o resultado, após a dedução dos custos de operação foi um prejuízo de R$ 17,1 milhões.

“Nosso desafio é entregar a empresa bemâ€, argumenta Helen. A presidente contabiliza uma redução de R$ 55 milhões no déficit, em dois anos. “Temos de seguir reduzindo o déficit, recuperando a frota e tenho certeza que conseguiremos reerguer a empresa. Apesar de ser um grande desafio que teremos pela frente. Já fizemos muito, mas ainda temos muito a fazerâ€, analisa. “Agora, sem dúvida, esta é a melhor experiência profissional da minha vidaâ€, finaliza.   

 

Paulo Ricardo Fontoura

Andrea Brasil